quinta-feira, 24 de maio de 2012

Hibernum



Nosso primeiro inverno.
Nunca, jamais esquecerei.
Seu corpo frio, sua mão pedindo a minha.
Enlaçados aos cobertores.
Tentando escutar a chuva lá fora.
Imaginando as finas e gélidas gotas.
Escorrendo pela grade branca de minha janela.
Nossa janela.

Seus dedos finos deslizando sobre meus negros cabelos.
Seus olhos procurando os meus na escuridão.
Um desenho de meses atrás que parecem anos.
E as gotas desperdiçando todas lagrimas do mundo.
Eu e você. E só.

Ha de ser infinito.
A finitude do inverno.
A brisa passageira.
A sinistra noite longa.
Os desavisados a fugir do temporal.
Os pés frios buscando se cobrir na calada da noite.
Os braços abraçando o travesseiro em um súbito e solitário desejo de compartilhar do calor humano.
E eu, aqui sem você.  Noite após noite a perpetuar minha insônia.

Quando o inverno chegar.
E as casas se tornarem cavernas escuras urnas de nossa solidão.
É com você que eu quero estar.
Sentar na varanda, ver a chuva passar.
Torcer para que cada nuvem densa e escura demore.
Demore o bastante pra nos resfriar, acalmar a pele. Sugar nossa alma.
Que chuva, que chova.
Que lave a alma dos estranhos.
Que prolongue nosso abraço.
Muito mais que apenas o aquecer ou o aconchegar.
Que tenha amor, meu amor.

Que haja misericórdia para aqueles que não têm onde se abrigar.
A chuva trás consigo não só aconchego. Mas também destruição.
Hão de lembrar quando tudo desmoronar.

Quando o inverno enfim passar.
Duas doses para acompanhar.
E como sou seu bom menino.
Voltarei a esperar.
Desta vez, pelo próximo inverno.

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