Acordei em uma noite chuvosa;
Em minha cabeça ainda pesada do sono acumulado;
Não, não estou sonhando acordado;
Por mais que minha cama morna tente me confundir;
Ainda na penumbra levanto;
Vou ao banheiro e lavo meu rosto;
Olho no espelho;
E vejo minha imagem disforme;
Que não me mostra nada;
Além de sombras;
Caminho através dos cômodos;
Enquanto reflito;
O quanto a vida caminha a passos largos;
Ainda é fresca na minha memória;
Meus pequenos passos e brincadeiras de crianças;
Brincadeiras essas, que deram espaço;
Para obrigações desesperadas e busca desenfreada pela pontualidade;
Em meu recém adquiridos dezenove anos;
Talvez já não me reste paciência;
Talvez já não me reste tanto tempo;
O amanhã vem chegando tão cedo;
Que temo deixar o trem passar;
Pessoas irão;
E eu ficarei;
Aguardando sentado a minha vez?
Numa fila sem lógica.
Já não vejo as nuvens e estrelas passarem;
Em minha janela;
Enquanto jogo aos montes o tempo janela a fora;
Isso já não me possui;
E eu já não possuo a ninguém;
Talvez não tenha realmente conseguido;
Aos dezoito minha tão esperada liberdade;
Talvez tenha ficado ainda mais preso;
Em um sistema sólido e de poucas brechas;
E no fim de toda minha confusa reflexão;
E a vejo;
Como em uma luz no fim do túnel;
Minha ultima esperança;
Branca, quase impossível de enxergar;
De tocar;
E eu já não sinto;
Que ainda há busca;
Além de estar preso em um beco sem saída;
Não me deixe mais esperar;
Há muito a vivermos;
E o tempo é curto;
Eu não posso guardá-lo para depois;
Não permita mais um dia ir embora;
Ao vento, nesse eterno relógio de areia...